terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crise na Terra do Sol Nascente?

"O Japão está isolado no mundo dos games. Se algo não mudar, estamos arruinados". A declaração veio de um dos principais conhecedores do mercado de games mundial e, principalmente, japonês, Keiji Inafune, produtor de jogos consagrados, como Mega Man, Devil May Cry, Onimusha e Dead Rising.

A declaração bombástica do sempre crítico executivo da Capcom ocorreu durante a última Tokyo Game Show (TGS) 2010, em entrevista concedida ao New York Times. Segundo Inafune, os jogos desenvolvidos pelas empresas japonesas estão, no mínimo, cinco anos atrasados em relação aos produzidos pelas empresas européias e estadunidenses.




Muito descontente com o que foi apresentado na feira, o executivo não poupou sequer a companhia onde trabalha. "Quero fazer jogos que viagem para fora, mas a Capcom não levou a globalização à sério. Quero estudar como os ocidentais vivem e fazer jogos que agradem a eles".  Inafune ainda sentenciou. "Eu acho que os jogos japoneses estão mortos. Quando digo essas coisas, sou chamado de traidor. Mas eu amo o Japão. Eu quero salvá-lo".

Além de Inafune, muitos críticos especializados consideraram a feira fraca de inovações e a TGS segue perdendo importância no mercado atual de games. A forte crise econômica que assola o Japão fez com que games que antes só seriam apresentados na TGS, estivessem presentes em feiras como a E3, realizada nos Estados Unidos, e a Gamescom, na Alemanha. Dessa forma, a feira apresentou, praticamente, mais do mesmo e pouca inovação, o que frustrou muitos dos visitantes e jornalistas.

Se considerarmos esta lista com os 15 principais games lançados durante a TGS, podemos constatar que, no quesito inovação, a feira realmente deixou a desejar. Os jogos mostrados chamam a atenção por serem consagrados e terem um estilo já conhecido e admirado pelo público, como Final Fantasy XIV, por exemplo. Apesar de gerarem bastante interesse e, possivelmente, serem sucesso de vendas, nenhum dos games apresentados demonstra potencial de divisor de águas, ou de grande inovador, e podem acabar desagradando fãs, como ocorreu com Final Fantasy XIII.


Além de FF XIV, os destaques ficaram por conta de games já conhecidos, como  Yakuza, Gran Turismo, Tekken, Deus Ex, e também os remodelados Castlevania e Devil May Cry. A “novidade” ficou por conta de Asuma’s Wrath, franquia que, segundo a sua produtora, a Capcom, redefinirá os jogos de ação. (Aqui vai um palpite do EGJ: inovar com um jogo similar ao - esse  sim - inovador God of War? Vamos esperar até 2011 para ver. Confira no vídeo.)




Já no lado ocidental,  a americana Microsoft, por exemplo, lançou  títulos com propostas inovadoras e que agradaram bastante o público. Jogos como Alan Wake e Mass Efect inovaram na narrativa, interatividade e jogabilidade. Para auxiliar na construção das histórias, as empresas americanas contrataram roteiristas de séries de Hollywood, o que tornou os jogos ricos em detalhes e com uma narrativa capaz de prender o jogador e fazê-lo viajar pela história  como quem assiste a um filme e pode interagir com o que vê na tela.

Apesar do cenário negativo, os japoneses seguem criando tendência inovadoras sim. Por exemplo, o sistema de interação de movimento com os games surgiu com a japonesa Nintendo, com o console Wii, e hoje é copiado pela também japonesa Sony.  Títulos como Shadow of Colossus e nomes de peso como Hideo Kojima também ajudam a salvar a reputação dos jogos orientais.

Shadow of Colossus, todo mundo sabe, é um clássico do Playstation 2. Já Kojima, além de ser o criador de várias franquias de sucesso, simplesmente revolucionou a maneira de jogar o consagrado Metal Gear Solid e mostrou que os orientais sabem sim o que estão fazendo, apesar da dificuldade que têm de agradar jogadores do mundo todo.

Essa dificuldade pode ser mostrada através de números. Em 2009, a representatividade dos jogos japoneses no mundo encolheu, e, atualmente, os orientais possuem uma fatia de apenas 8% do mercado.

Muito dessa crise se deve ao fato dos japoneses não conseguirem criar games que atinjam oriente e ocidente. Por isso, alguns jogos só fazem sentido para japoneses e asiáticos. A Ásia, por sinal, é o novo mercado que os japoneses miram para tentar driblar a crise. Conquistar países com economia em expansão, como a China, é a saída, e talvez a única esperança das produtoras japonesas recuperarem seu espaço no mercado internacional.


Ps: um jogo que surge com grandes possibilidades de estourar no mundo todo é The Last Guardian, desenvolvido pela Japan Studios em parceria com a Sony. Apesar da semelhança com o estilo de Shadow of Colossus, as imagens apresentadas durante a feira encantou e deixou ansiosa a imprensa e também os jogadores. Enquanto espera o lançamento, confira abaixo o trailer oficial da TGS.

3 comentários:

  1. Não concordo que a crise do mecado japonês tenha a ver com falta de inovação. A meu ver o Japão ainda sofre problemas causados pela crise econômica e dentre os gastos que as pessoas precisam cortar vem primeiro o entretenimento o que afeta a venda de jogos.A industria japonesa de jogos sempre se manteve bem isolada do resto do mundo também em relação a games desde decadas passadas e nunca vi ela se esforçar tanto para atender ao mercado ocidental quanto agora impulsionada principalmente por concorrencias vulgo (Xbox 360) e pelo sucesso que os animes vem fazendo no ocidente (este último sempre caminha junto com os jogos).

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  2. Realmente a declaração de Inafane é bastante forte e polêmica. Acredito que uma potência como o Japão se fechar para o resto do mundo é um retrocesso para esse mercado que produz games fantásticos.
    Perdem juntos empresas e jogadores.

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  3. O que foi levado no post é exatamente a falta de inovação que o mercado japonês tem apresentado nos últimos anos. Se pensarmos nas maiores empresas de games japoneses só a Nintendo tem, realmente, procurado inovar - vide a possibilidade que o WII oferece. É vendo jogos como Fall out 3, Bioshock, Boderlands, Dead Space da EA, Splinter Cell Conviction, Red Dead Redemption, Assassin's Creed, ou até mesmo Rock Band... e a lista não para por aí... é que percebemos que os japoneses, apesar de saber fazerem jogos fantásticos, tem dificuldade em inovar com qualidade. Pense em Final Fantasy XIII, inovações que não só pioraram o jogo mas que descaracterizaram a série. E outra coisa, o mercado japonês se esforça para atender o mercado americano sim. Talvez nos tempos do 16 bits posso até concordar com você, basta pensar em jogos como Final Fantasy V, Star Ocean, Tengai Makyou, entre outros. Mas, a maioria se restringem a RPGs. Agora, pense em jogos como Bayonetta, Metal Gear Solid, até mesmo Resident Evil. É o mercado japonês se agregando a cultura ocidental. Além disso, comece a pensar na história ou enredo dos jogos, cada vez mais arraigados a um conceito de gosto universal, não mais unicamente japonês. O japão tem olhos para o nosso mercado, afinal somos um público imenso.

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